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Perguntas e Respostas
Um antigo adágio assim descreve a Maçonaria: um sistema peculiar de moralidade velada por alegorias e símbolos.
Alguns a classificam como religião, o que de fato não é, uma vez que, religião é a crença na existência de uma força sobrenatural criadora do Universo, de todas as coisas e pessoas, sendo essa força, Deus, a despeito da obrigatória crença num Ente criador, mas livre de referência dogmática (dicionário Aurélio, versão online). Outros como uma seita, outro erro, já que a seita deriva de uma divergência de um pensamento principal, normalmente no campo religioso, determinando assim uma nova corrente de pensamento (dicionário Aurélio, versão online).
A referência historicamente precisa traça a Maçonaria como originária das guildas de pedreiros medievais, tornando-se institucionalizada em 1717 com a fundação da Grande Loja da Inglaterra através das Lojas Goose & Gridon (Ganso e Grelha), Crown (Coroa), Apple Tree (Macieira) e Rummer & Grapes (Uva e Topázio).
Tem em seu modus vivendi a prática da caridade, a benevolência, assim como o cultivo da fraternidade universal.
Podemos afirmar que ela é irmã da filosofia. Embora, historicamente, haverem registros de líderes políticos em seus quadros que ajudaram a moldar o mundo, ela, por definição é apolítica.
O que é Maçonaria?
Há de se notar que existem várias linhagens maçônicas que, a despeito de terem comuns metodologias de transmissão de seus ensinamentos e continuidade de suas tradições, acabaram desenvolvendo seus ethos maçônicos próprios em países em que foi recebida (a Maçonaria), assim é comum falarmos em Maçonaria inglesa, francesa, norte-americana, etc.; e como tal, o século XVIII viu nascer uma linhagem maçônica predominantemente afro-americana conhecida como Maçonaria Prince Hall, nome este derivado de seu fundador.
Oriunda da primeira Loja negra do continente norte-americano, a African Lodge, 459, por mais de 220 anos a Maçonaria Prince Hall foi (e ainda é) um bastião de resistência ao racismo e segregacionismo que imperava (com ainda fortes resquícios) em território norte-americano, que refletidos também na Maçonaria norte-americana, conhecida como caucasiana, mesmo contrariando o ideário igualitário e libertário maçônico, peremptoriamente recusava a aceitação de negros em suas Lojas.
Embora por muito tempo considerada ilegítima (e contestada radicalmente) pela Maçonaria mainstream, de seus quadros surgiram importantes líderes afro-americanos num arco que vai desde políticos, passando por atores e cantores até líderes civis e militares.
Assim como sua contraparte caucasiana, a Maçonaria Prince Hall está em todo o território norte-americano, o que inclui territórios ultramarinos como Porto Rico e Havaí, bem como Canadá, Caribe e no continente Africano.
Como escrevemos noutro artigo, sob certo aspecto a Loja Africana foi uma resposta ao caos no entorno da recémsurgida República, e ao contrário de sua contraparte branca, vista simplesmente como uma sociedade secreta, era vista como uma organização com possível poder insurrecional, lembrando que a Maçonaria sempre esteve atrelada conceitualmente a movimentos reformistas (...)¹.
O que é Maçonaria Prince Hall?
Mesmo considerando certa dificuldade de precisão histórica, com versões por vezes divergentes, a maioria dos pesquisadores tem como sua data de nascimento 12 de setembro de 1748, em Bridgetown, Barbados, Índias Ocidentais. Nascido livre, tendo como pai Thomas Prince Hall, um inglês, e uma negra liberta de origem francesa. Aos 17 anos ele embarcou para Boston, tornando-se trabalhador na produção de couro.
É registrado que ele foi Ministro da Igreja Metodista, em Cambridge, Massachusetts. Em 1775, Hall, junto com outros 14 negros libertos de Boston solicitou ingresso em Lojas brancas ligadas aos Estados Continentais, à época, sob governo britânico, petições essas negadas, sendo permitido somente ingresso na Loja Maçônica nº 58, Loja militar ligada ao Exército Britânico composta por irlandeses, com autoridade para reunirem separadamente, como Loja, mas sem permissão de conferir graus.
Como consequência da Guerra de Independência Americana e o consequente deslocamento da Loja nº 58, que acompanhou o Regimento à qual pertencia, a Loja Africana, assim como era conhecida, ficou acéfala. Em 1784, Hall solicitou à Grande Loja da Inglaterra uma Carta Constitutiva para trabalhar como Loja regular, sendo concedida somente em 1787, nominada Loja Africana, nº 459, sendo Hall nomeado seu primeiro Venerável Mestre.
Com a rápida expansão de Lojas fundadas pela Loja Africana nº 459, em 1791, Prince Hall foi nomeado, pela Grande Loja da Inglaterra, Grande Mestre Provincial. Prince Hall não foi somente um maçom entusiasta, respeitado por maçons caucasianos inclusive, embora com uma forte dose de preconceito, também era um ferrenho combatente da escravidão, fazendo público enfrentamento às autoridades governamentais da época para que implantassem melhorias reais aos negros, em especial a igualdade de acesso à educação.
Muitos o consideram como um dos preconizados na defesa dos direitos civis, (...) um idealizador da primeira organização fraternal da América para afro-americanos, Hall foi levado à categoria de um pai fundador (funding father). Com o tempo, o grupo passou a ser conhecido como Maçonaria Prince Hall; A partir de 1800 as Lojas maçônicas Prince Hall espalharam se pelo país e continuam até hoje², vindo a falecer em 4 de dezembro de 1807.
Quem foi Prince Hall?
No ano de 1847 existiam duas Grandes Lojas Maçônicas (Prince Hall) na Pensilvânia e uma Grande Loja em Massachusetts (Prince Hall) e por patrocínio do Grão-Mestre desta, foi realizada uma reunião dos representantes das Grandes Lojas para sanar dissensões que haviam surgido na fraternidade Maçônica Prince Hall. Como resultado deste conclave, foi estabelecida uma Grande Loja Nacional, também chamada de Pacto Nacional (National Compact).
Entre 1847 e 1877, a Grande Loja Nacional funcionou não só como disseminadora da Maçonaria Negra, fundando várias Grandes Lojas na América e Canadá, mas também era a inquestionável governante do corpo maçônico, entre os afro-americanos, e todas as Grandes Lojas Estaduais estavam a ela subordinadas.
Após 1877, dissensões emergiram; assim como a Guerra Civil Americana dividiu a nação em razão do poder Nacional vis-à-vis ao Estadual, as Grandes Lojas Estaduais rebeldes, sendo conhecidas a partir deste momento como Grandes Lojas Estaduais, PHA, alegaram que o Pacto Nacional, conhecida como Grande Loja Nacional foi dissolvida.
No entanto, nenhuma delas jamais produziu quaisquer documentos, atas ou registros verossímeis o suficiente de maneira a demonstrar tal fato.
Como se deu a consolidação e expansão da Maçonaria Prince Hall?
Sim, há dois ramos principais: PHO (Prince Hall Origin), surgida em 1847 com a formação da Grande Loja Nacional (Pacto Nacional), e suas Grandes Lojas Estaduais a ela subordinada, presentes em quatorze Grandes Lojas em território norte-americano, uma Grande Loja no Brasil, e outra no Caribe e região.
O outro ramo é conhecido como PHA (Prince Hall Affiliation), majoritariamente derivado da Grande Loja Nacional, através cisões e em tempos diferentes, tem como modelo político administrativo uma Confederação de Grandes Lojas Independentes que se reconhecem através de uma Conferência de Grão-Mestres.
Então há ramos diversos na Maçonaria Prince Hall?
A Maçonaria Prince Hall PHO (Prince Hall Origin) e PHA (Prince Hall Affiliation) são duas organizações maçônicas distintas dentro da Maçonaria Prince Hall.
A Maçonaria Prince Hall PHO é composta por lojas maçônicas que afirmam ter uma linhagem direta do primeiro mestre maçom afro-americano da América do Norte, Prince Hall. Essas lojas são consideradas como sendo as mais antigas e tradicionais dentro da Maçonaria Prince Hall.
A Maçonaria Prince Hall PHO tem como objetivo preservar as tradições e rituais da Maçonaria Prince Hall, bem como promover a fraternidade e a caridade entre seus membros.
A Maçonaria Prince Hall PHA, por outro lado, é uma organização mais recente que foi formada por lojas maçônicas que se separaram da Maçonaria Prince Hall PHO. A Maçonaria Prince Hall PHA reconhece a linhagem direta de Prince Hall, mas também permite a admissão de membros que não têm essa linhagem. A organização também promove a fraternidade e a caridade entre seus membros, bem como a igualdade racial e os direitos civis.
Ambas as organizações, PHO e PHA, são consideradas parte da Maçonaria Prince Hall e compartilham os mesmos princípios fundamentais, como fraternidade, caridade, integridade e busca pela verdade.
O que é a Maçonaria Prince Hall PHO e PHA?
A despeito de ser um dos maiores e mais antigos ramos maçônicos existentes no mundo, comprovadamente há um desconhecimento, dentro da Maçonaria Brasileira, da Maçonaria Prince Hall; seus motivos históricos, sua razão de ser, sua postura coletiva como catalizadora social e sua natureza contrária à intolerância racial, é eclipsada pelas brumas da ignorância.
No entanto, por décadas maçons brasileiros, sobretudo da ascendência afro-brasileira, não só desafiaram as opiniões contrárias que sentenciavam, de forma irrefletida, a Prince Hall como estranha à Maçonaria, mas através de ações concretas esforçaram-se em replicar, em certa medida, a experiência maçônica afro-americana.
No entanto, conforme muito bem escreve o Irmão James R. Morgan III na introdução de sua obra THE LOST EMPIRE, Black Freemasonry in the Old West (1867 - 1906), “aos meus ancestrais maçons: o trabalho que faço é resultado da inspiração que recebi de vocês”, em 20 de agosto de 2022, o desejo de muitos tornou-se realidade através da fundação da Grande Loja Prince Hall São Paulo, PHO, filiada à Grande Loja Nacional de Maçons Livres e Aceitos do York Antigo – Prince Hall Origin, National Compact, USA, herdeira direta da African Lodge, nº 459, inaugurando assim uma nova fase na história da Grande Loja Nacional, EUA, que após 175, em larga escala se tornou uma Potência Maçônica com uma Grande Loja à ela afiliada em região ultramarina.
Há Maçonaria Prince Hall no Brasil?
Para maior compreensão, faz-se necessário citar trechos do texto elaborado pelo Ir. Renan Gomes:
A Grande Loja Prince Hall, PHO é regular?
Para maior compreensão, faz-se necessário citar trechos do texto elaborado pelo Ir. Renan Gomes:
Breves considerações sobre o tema Intervisitação entre as Potências Maçônicas no Brasil. Veremos que faz parte da regularidade a não interferência de uma potência na outra sobre o tema reconhecimento, ou seja, cada potência é soberana para reconhecer e deixar de reconhecer quem bem entender. Nem mesmo a UGLE faz restrições ou impõe restrições para ninguém, a lista de reconhecimento de uma potência ou grupo de potências não pode ser parâmetro para regularidade. Por esse motivo se faz necessário tratar de outros temas, que são regularidade e reconhecimento.
REGULARIDADE – Uma Loja ou Potência é REGULAR quando preenche os “Princípios de Regularidade” estabelecidos em documento produzido em 4 setembro de 1929 pela (UGLE).
RECONHECIMENTO – Diz-se de uma Potência Regular que estabelece com outra Potência um TRATADO DE MÚTUO RECONHECIMENTO. Observe que não é a Potência “A” reconhecendo a Potência “B”. É RECONHECIMENTO MÚTUO.
Portanto Reconhecimento não tem nada a ver com Regularidade. Para a UGLE, Regularidade e Reconhecimento são condições distintas: uma potência pode ser regular e não ser reconhecida. Em contrapartida, se uma potência não for regular, ela não poderá ser reconhecida. Desta forma, segundo aquela instituição, a primeira providência para o reconhecimento de uma potência é certificar-se de sua regularidade.
"INTERVISITAÇÃO NO BRASIL
1-A crença num DEUS revelado; o Grande Arquiteto do Universo.
2- Fazer juramentos sobre o Livro da Lei.
3- Trabalhar somente na presença das três grandes luzes: o Livro Sagrado, o Esquadro e o Compasso.
4- Abster-se de discussões políticas e religiosas em Loja.
5- Somente admitir membros do sexo masculino.
6- Ser soberana no exercício de sua autoridade sobre as Lojas Azuis e seus graus (aprendiz, companheiro e mestre).
7- Respeitar as tradições. Ou seja, fazer com que em sua obediência sejam respeitados os Landmarks, os antigos regulamentos e os usos e costumes praticados pela Franco-maçonaria.
8- Ser regular em sua origem, o que pressupõe ter sido obrigatoriamente fundada por uma potência já constituída ou que possua e tenha sido fundada por pelo menos três lojas regularmente consagradas por uma Potência Regular.
Princípios de Regularidade da UGLE:
Para haver intervisitação não é necessário que haja Tratado de Reconhecimento. É necessário apenas que ambas as Lojas (visitada e visitante) sejam REGULARES. Portanto, podemos visitar e sermos visitados, sem problemas. O que não é permitido é visitar ou ser visitado por Lojas, ou Irmãos, ou Potências que sejam IRREGULARES ou EXPÚRIAS (que não preencham os requisitos da UGLE).”
A “Grande Loja Prince Hall São Paulo, PHO SP” é uma Obediência afiliada à “National Grand Lodge of Free & Accepted Ancient York Rite Masons, Prince Hall Origin – National Compact, USA”, dos Estados Unidos da América, sendo então regular em sua origem, preenchendo todos os “Princípios de Regularidade” estabelecidos pela Grande Loja Unida da Inglaterra (UGLE), com especial atenção ao 8º princípio.
Sob certo ângulo a Maçonaria Prince Hall surge como resposta prática ao segregacionismo racial dominante em solo norte-americano. Lembrando, Prince Hall e mais 14 Irmãos de ascendência negra pleitearam iniciação em Lojas Maçônicas caucasianas norte-americanas (coloniais), que pelo preconceito racial foram recusados; aceitos, depois de contínuo esforço, numa Loja militar irlandesa anexa ao Exército Britânico.
A Grande Loja Nacional, EUA, herdeira direta da African Lodge, nº 459 fundada por Prince Hall, não só foi responsável pela expansão da Maçonaria Prince Hall, por décadas, em solo norte-americano, mas como também fez frente ao enfrentamento do racismo. Com considerações tais, podemos concluir que a Grande Loja Nacional, EUA e por consequência a Grande Loja Prince Hall São Paulo é exclusiva a negros? A resposta é não. Se fosse afirmativa a resposta seria contrária ao espírito Maçônico Universal. Somos uma linhagem maçônica rica em tradição, que tem como pressuposto um olhar maçônico que vai além da visão eurocêntrica, sem excluí-la, ao mesmo tempo em que, visualiza a inclusão em sua essência, sem perder suas raízes tradicionais.
Grande Loja Prince Hall São Paulo é exclusivista?
Nota
1) Brooks, Joanna, Prince Hall, Freemasonry, and Genealogy, African American Review, Vol. 34, No. 2 (2000), versão comentada.
2) Taylor, David A., A Forgotten Black Founding Father, Why I’ve made it my mission to teach others about Prince Hall, The Atlantic
Grande Loja Prince Hall São Paulo, PHO, National Compact
Elaborado por: Alexandre Arantes, Hon. Grão Mestre - Setembro/2022
Revisão: Gabriel Amorim Filho, VM. Loja Luis Gama nº 3 – Junho/2023
Grande Loja Prince Hall São Paulo
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